NOIVA Só se for cum ôta. Pro mim tá é tudo acabado.
NOIVO Mais meu amô, eu te amo e quero me casá cum tu. Oi... eu nem se importo mais se tu deu primeiro pra Joaquinzim fí de João, dispois praquele gordão do Raimundão, pro fí de Zé Baxim e pro galego do Saco Grande. Num se importo é cum mais nada, só quero casá cum tu.
NOIVA Tu só quer casá cum eu proqui eu te dispensei e tu num aceita um fora. Tu nunca me amô de verdade, nem mermo quano tava cum eu, lá por detrás do currá. Tu só tá aqui na Igreja proqui foi meu pai qui troxe. Se num fosse a lapa de faca dele nem aqui tu aparicia. Mas só qui agora chegô a hora do trôco. Iscute bem: eu posso inté ficá falada, mais cum tu num caso mais.
BEATA (PARA A NOIVA) Minha fia, dêxe disso. Num diga tanta bestêra (OLHA PARA A MÃE DO NOIVO) Se case cum o moço aí, pra num ficá qui nem eu qui quano era mais moça também dispensei um. Aquele sim, era safado, mais mermo cum tudo isso, tiria sido mió do qui ficá in jejum.
CASAMENTO MATUTO – “O CASAMENTO DE VICENTE – AUTOR: GLÁYDSTON LIRA
NOIVA (APÓS REFLETIR) Tá certo, Biata Maria de Jesus, eu só vô aceitá casá in consideração a sinhora. Mais ramo terminá logo pra gente pudê ir s’imbora.
PADRE Meus filhos, eu resolví. Não faço mais casamento.
PAI DA NOIVA Você tá bêbo, é pade? Dispois desse rôlo todo: primeiro o cabra num quiria casá. Quano ele resorve é a veiz da minha fia se imburrá pra num querer mais casá. E quano eles resorve, quano tá tudo pra terminá, aí o sinhô se recusa! (OLHANDO PARA O CÉU) Meu bom Deus qui me perdôe (PUXA UMA FACA) mais meu saco já inxou (AVANÇA PARA O PADRE) Ramo, seu pade, comece a rezar pela sua aima, ou intão faça o casamento. Diga: Maria Pricila (O PADRE REPETE) Aceita Vicente Veve Fraco cuma teu isposo? (O PADRE REPETE)
NOIVA Sim
PAI DA NOIVA (SEMPRE COM A FACA NO PESCOÇO DO PADRE) Agora... diga: Vicente Veve Fraco, aceita Maria Pricila (O PADRE REPETE) essa minina linda (O PADRE NÃO FALA) diga, pade, “essa minina linda” (O PADRE FALA A CONTRA-GOSTO) como tua legítima esposa... (O PADRE SEMPRE REPETINDO) e promete dá tudo o qui ela quizer...
PADRE Eu não posso dizer isso...
PAI DA NOIVA Diga, pade... e promete dá tudo o qui ela quizer? (O PADRE REPETE) promete dá também um carro a ela?
PADRE Pelo amor de Deus, eu não posso...
PAI DA NOIVA Pode! Diga, pade: promete dá também um carro a ela? (O PADRE REPETE, CHORANDO) promete trabaiá pra ganhá dinhêro e num pricisá pidí pro sôgro?
PADRE Coronel, isso já é demais...
PAI DA NOIVA Olha a faca!
PADRE Promete trabalhar pra ganhar dinheiro e não precisar pedir ao sogro para sustentar a casa?
NOIVO É, vô tentá.
PAI DA NOIVA Cuma é?
NOIVO Caima, coroné. Eu disse que vô aceitá.
PAI DA NOIVA Assim tá mió. Agora, pade, benza a todos.
PADRE Em nome do pai, do Filho e do Espírito Santo. Vocês estão casados, já podem ir pra casa e comemorar (O PADRE COMEÇA A SAIR)
CASAMENTO MATUTO – “O CASAMENTO DE VICENTE – AUTOR: GLÁYDSTON LIRA
PAI DA NOIVA (PUXA-O PELO BRAÇO) Peraí, pade, num acabô inda não. Farta benzê as liança.
PADRE Está bem, cadê as alianças?
TESTEMUNHA A Num tem, mais pra vê isso logo terminá, vô dá as qui era de papai e mamãe. É antiga, feita de puro ôro (ENTREGA-AS AO PADRE)
PAI DA NOIVA (SEMPRE FAZENDO PRESSÃO AO PADRE) Vamos, pade. Benza essas liança.
PADRE Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
PAI DA NOIVA (ALIVIADO, SUSPIRA) Pronto! Então... Viva São Tomé!
TODOS Viva!
PAI DA NOIVA Viva Santo Antônio!
TODOS Vivaaa!
BEATA Viva São João!
TODOS Vivaaaaa!
TESTEMUNHA A Viva São Pedro!
TODOS Vivaaaaaaaaaa!
NOIVA (MALICIOSA, FALANDO PARA O PÚBLICO) Viva a faca do coroné.
REPENTINAMENTO UM VENTO FORTE COMEÇA A SOPRAR. O LOUCO TEM UMA VISÃO E ECOA UM GRITO QUE HÁ MUITO ESTÁ PRESO EM SEU SER.
LOUCO Luiiiiz!
DO ALTO, LUIZ GONZAGA, VESTIDO DE BRANCO, CHAPÉU DE COURO E SANFONA BRANCA, COMEÇA UM POUT-PORRI. TEM AO SEU LADO UM ANJO, QUE SEGURA NAS MÃOS UMA CORÔA DE REI, QUE ENTREGA-A A JESUS, O REI DOS REIS, QUE NUM GESTO DE HUMILDADE CORÔA O REI DO BAIÃO.
Cajazeiras-PB, 19 de Abril de 2001 – 12:17
GLÁYDSTON LIRA
Reescrito em 20 de Maio de 2001 – 16:31
INICIA-SE COM A ENTRADA EM CENA DE ALGUNS MILITARES DEVIDAMENTE FARDADOS E ARMADOS. EM OUTRO PLANO CIVIS FAZEM PROTESTOS PARA DEPOR O PRESIDENTE JOÃO GOULART. TODOS COM CARTAZES E NESSES AS SEGUINTES FRASES: “ESSE PRESIDENTE É COMUNISTA”, “QUEREMOS REFORMA AGRÁRIA”, “TUDO SOBE, MENOS O SALÁRIO”. TODOS NUM CLIMA DE EUFORIA.
31de março de 1964. Tropas mineiras marcham para o Rio de Janeiro afim de depor o presidente J. Goulart que se encontrava no Rio. Forças de outros Estados também se movimentam. Para evitar um encontro sangrento, Goulart voa para Brasília, e de lá para o Uruguai. E houve confronto dos militares com os civis.
POVO (GRITANDO) Esse presidente quer levar o país ao comunismo. Vamos lá, vamos
Acabar com isso. (OS MILITARES INTERVÉM E VENCE OS CIVIS).
MILITARES A partir de agora faremos do Brasil um país digno e ordeiro. A UNE deixará de existir e os estudantes não mais se movimentarão em protestos. Todo estudante do sexo masculino terá que cortar o cabelo e estão definitivamente proibidos de usarem roupas e cores exóticas. Apenas as cores da nossa Bandeira. E faremos cumprir (SAEM EM MARCHA)
Logo no começo do regime militar foram afastados da vida pública todos os que se opunham ao novo regime. Muitos tiveram seus direitos públicos cassados. Muitos foram expulsos do país. Outros foram presos e torturados. Através de Atos Institucionais, diversos pontos da Constituição foram mudados para dar maiores poderes ao Governo Militar. Ninguém mais conseguia segurar, principalmente os estudantes que queriam ver um Brasil novo e democrático.
FLÁVIO (ENTRA DE MÃOS DADAS COM SUA NAMORADA. AMBOS TRAZEM
CADERNOS) Não aguento mais esse clima. Ninguém pode fazer nada, ninguém
Pode expressar o seu pensamento. Tá demais, Márcia. Nós podíamos reagir.
MÁRCIA Você viu o que aconteceu com a União Nacional dos Estudantes? Totalmente destruída pelos militares. Flávio, eu não sou louca de me meter numa dessas.
FLÁVIO Mas alguém tem que fazer alguma coisa. Queremos liberdade e vamos conseguir. (SAEM DE CENA).
A SONOPLATIA COLOGA EM BG A MÚSICA “ALEGRIA, ALEGRIA”, DE CAETANO VELOSO. ENTRA A VOZ DO NARRADOR, ENQUANTO AS CENAS SE PASSAM NO PALCO.
Os anos sessenta foram ricos em crise e contradições no mundo todo e igualmente no Brasil. Era a maturidade da primeira geração pós guerra e ela não deixou de marcar época e fazer história. Foram anos de rupturas políticas, sociais, morais e ideológicas. O Brasil começara a década saudando a nova capital, Brasília, e nas eleições presidenciais escolheu Jânio Quadros, o qual obteve a maior votação da história do país. Sete meses depois Jânio renunciava, assumindo o seu vice, João
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